Ouvimos falar da Serra da Capivara pela primeira vez há exatamente um ano, quando, por acaso, encontramos a Cueva de Las Manos na Ruta 40 argentina.
Desde então, um dos destinos que mais nos atraía no Brasil era a tal Serra da Capivara, famosa internacionalmente pela importância arqueológica de suas pinturas rupestres, datadas de até 28 mil anos do presente.
O parque da Serra da Capivara localiza-se ao sul do Piauí e pode ser acessado pelas cidades de Canto do Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e São Raimundo Nonato. Escolhemos esta última para nos servir de base para explorarmos o parque e, assim que chegamos na região, já partimos para lá. No caminho do parque, encontramos um albergue e decidimos buscar mais informações.
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A hospedaria da Serra da Capivara serve de ponto de apoio para os visitantes do parque, já que São Raimundo Nonato é um pouco distante e não possui muitos atrativos para o turismo. Por lá funcionam, além de um albergue muito aconchegante, um restaurante e uma fábrica artesanal de peças de cerâmica.
Descobrimos que o acesso ao parque é permitido apenas com a presença de guia. Enquanto esperávamos o nosso, fomos conhecer a fabricação das peças de cerâmica. Os artesãos que trabalham lá nos receberam muito bem. Muito simpáticos, nos mostraram como funciona todo o processo de produção e acabamento da cerâmica.
Atualmente, essas peças fabricadas na Serra da Capivara viraram artigos de luxo em algumas lojas de decoração famosas no país. Na lojinha da fábrica, é possível comprar lindas cerâmicas a um preço bem baixinho. Saímos de lá com algumas, que felizmente chegaram em casa inteiras, mesmo após passarem por muitos quilômetros de estradas de chão.
Após a visita na fábrica, seguimos em direção ao parque, ansiosos para conhecer um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo e descobrir o motivo deste título.
O Parque Nacional da Serra da Capivara foi declarado na década de 90 como Patrimônio Mundial da Unesco.
Na imensidão de suas imponentes rochas, cercadas pela vegetação típica do parque, que fica bem na área de transição da caatinga e do cerrado, se encontram mais de 900 sítios arqueológicos, com um total de mais de 30 mil pinturas, os quais testemunham a presença dos primeiros habitantes das Américas.
O primeiro sítio que visitamos foi o Boqueirão da Pedra Furada, o mais famoso e importante do parque. De longe, já conseguimos visualizar este imenso paredão rochoso, onde se situam as pinturas rupestres. Caminhando em sua direção, ficamos imaginando como nossos ancestrais conseguiram acessar o local e as dificuldades que enfrentaram para desbravar a Serra da Capivara.
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No boqueirão da pedra furada, mais de 1.000 pinturas rupestres, datadas em até 11.500 anos, nos permitem identificar os animais que viviam na região, o cotidiano, os costumes e os rituais dos antigos habitantes do Piauí. Devido à quantidade de pinturas rupestres identificadas em um só local, o Boqueirão se tornou o sítio arqueológico mais importante das Américas. Mas, para muitos cientistas, sua relevância é ainda maior.
Descobertas arqueológicas na região detectaram a presença humana mais antiga das Américas, o que provocou dúvidas a respeito das consolidadas teorias de povoamento do continente.
Cientistas encontraram ao lado do Boqueirão da Pedra Furada, fragmentos de carvão – os quais evidenciam a presença de fogueiras iniciadas por homens – datados em até 59 mil anos. Ao lado dos fragmentos, foram encontradas pedras lascadas, que seriam ferramentas fabricadas pelos antigos habitantes.
Até as descobertas arqueológicas da Serra da Capivara, a Teoria do Estreito de Bering era praticamente inquestionável pela comunidade científica. Conhecida também como Teoria de Clóvis, ela explica que os seres humanos conquistaram as Américas há apenas 12 mil anos, atravessando o Estreito que estava congelado no fim de um período de glaciação. Por este motivo, os vestígios que evidenciam a presença de homens há mais tempo no Brasil, causaram euforia e atritos entre arqueólogos de todo o mundo.
Além da visita ao Boqueirão da Pedra Furada, conhecemos mais alguns sítios arqueológicos e fizemos uma trilha para apreciar a natureza intocada do Parque.
De acordo com o guia que nos acompanhou, chegamos um pouquinho depois das chuvas começarem a cair na região. Segundo ele, o cenário que encontramos – arbustos verdes que tomam conta do parque – era diferente de uma semana antes, em que a secura da caatinga dominava a paisagem.
Com a visita à Serra da Capivara, ficamos ainda mais apaixonados e intrigados por pinturas rupestres. Para nós, estas evidências são como pistas deixadas pelos nossos ancestrais, que nos guiam para conhecer uma história de milênios.
Palavras da cientista Niéde Guidon, arqueóloga pioneira na Serra da Capivara, nos parecem muito sábias: “não preciso de um cadáver, apenas de seus vestígios para compreendê-lo”. Acreditamos que esses vestígios nos dão uma lição de como o ser humano conseguiu sobreviver em um planeta selvagem e perigoso e como conseguimos chegar tão longe.
Gostei muito do artigo. Vcs acreditam na teoria dos deuses astronautas? Oq sentiram ao ver as pinturas?
Olá, querida amiga Gerusa Paiva, tudo bem?
É um prazer recebermos a sua mensagem no Terra Adentro! 🙂
Confesso que foi muito emocionante observar de perto as figuras da Serra da Capivara!
Cada pintura mais misteriosa que a outra, que remonta a um passado tão longínquo para o Homem, mas ínfimo para o universo.
Ainda voltaremos lá, pois deixamos inúmeras cavernas para trás. 🙂
Um grande abraço dos amigos,
Henrique e Sabrina.