Um dos roteiros obrigatórios para quem busca as estradas mais belas do Brasil é a Serra Catarinense. Planejávamos sempre conhecer a região, mas constantemente algo mudava os nossos planos. Desta vez foi diferente. Partimos em direção à cidade de Urubici, localizada a mais de 1.000 metros de altitude, onde montamos a nossa base por três dias. Uma das regiões de serra mais incríveis de nosso país.
Em nosso primeiro dia na região, tivemos uma das maiores surpresas de nossa viagem. Era de manhã cedo, havíamos visitado uma bela Gruta em homenagem à Nossa Senhora e o Morro da Igreja, considerado o local habitado mais frio do Brasil. Descemos por vários quilômetros mais de 800 metros de desnível altimétrico e chegava a hora de seguir em direção à Serra do Corvo Branco. Ao longo do trajeto, inúmeras placas indicavam que a serra estava interditada. Contudo, já havíamos sido avisados por moradores locais que o acesso estava liberado. Segundo alguns nos relataram, esta seria uma estratégia para diminuir o fluxo de veículos na serra, já que ela passava por reparos estruturais.
O caminho se dá por um pequeno trecho de estrada de chão, bem esburacado, em meio às araucárias que o enfeitam. A serra tem este nome em homenagem ao Urubu-rei, uma ave típica da região. Por ser de grande porte e ter plumagem branca, com algumas penas coloridas, no passado era confundido com os corvos, de onde advém o nome: Serra do Corvo Branco.
Nosso primeiro contato com a serra foi incrível. O dia estava ensolarado, com pouquíssimas nuvens, sem qualquer sinal de neblina, algo incomum por estas bandas. No alto de seus 1.740 metros de altitude, presenciamos uma das mais belas obras de engenharia rodoviária de nosso país: um corte de 90 metros em rocha basáltica, o maior já realizado em qualquer estrada construída no Brasil. É impressionante ver como o carro se apequena em meio à esta imensa fenda. Quando se está descendo por este corte, é notável, do lado esquerdo, a quantidade de água que jorra pelos paredões. Este é um dos pontos visíveis de afloramento do Aquífero Guarani, considerado o maior em volume do mundo.
Assim que começamos a descer e deixamos os paredões para trás, tivemos a exata noção de toda a imensidão da serra. Curvas e mais curvas, de até 180 graus, proporcionam ângulos perfeitos para a observação e fotografia. Uma das regiões de montanha mais lindas que já passamos. É de cair o queixo, mesmo de motoristas mais experientes. Poucos metros depois, a estrada de chão toma conta e a serra ganha contornos ainda mais deslumbrantes.
Neste dia, encontramos somente com um casal de motociclistas e uma família que viajava em um carro. A tal solidão de Corvo Branco é perfeita para os amantes de estradas e para os que viajam em busca de liberdade. Momentos únicos para contemplar as matas nativas, as imensas formações rochosas e descobrir que é possível o homem conviver em harmonia com a natureza, mesmo quando realiza obras gigantescas.
Chegamos quase ao fim da serra, decidimos dar meia volta por entre paredões e desfiladeiros e fazer todo o trajeto de subida, o que nos deu a oportunidade de contemplar todas as belezas por outros ângulos. É impossível dizer se Corvo Branco é mais bonita na subida ou na descida. Os cenários que cruzamos são cênicos, dignos daquelas pinturas que se tem nas salas de casa.
Refizemos todas as curvas e logo partimos em direção à Urubici. Gostamos tanto da serra que, no dia seguinte, resolvemos voltar, sob muita chuva e forte neblina. Nem parecia o mesmo lugar, de tão sombrio que havia se tornado. Era hora de partir, sem mesmo conhecermos o Urubu-rei. Não importava, debaixo de tanta neblina seria impossível enxergarmos o famoso Corvo Branco.