Estava para começar a segunda etapa da Rota das Emoções. A primeira, em Jericoacoara, terminou com muita aventura, atoleiros e paisagens grandiosas.
Chegamos na cidade de Parnaíba, estado do Piauí, no fim do dia. Estávamos muito empolgados para conhecer o único delta das Américas em mar aberto. Aproveitamos a noite para fazermos um lanche mais do que especial no quiosque da Tia Maria, uma dica preciosa que recebemos de um morador local.
No dia seguinte, partimos rumo à cidadezinha de Ilha Grande do Piauí, a cerca de 15 km de Parnaíba, de onde partem os barcos que levam ao Delta. De lá, você pode decidir fazer o passeio de catamarã ou de lancha. Nós optamos pela lancha, pois, segundo alguns conselhos que ouvimos, o catamarã não passa em certos lugares. E eles estavam certos! De fato, o trajeto feito de catamarã fica bem restrito, além de ser mais lento.
A lancha partiu e logo o Delta começou a nos surpreender. Lindas dunas pelo caminho em meio à toda imensidão do rio tornam o cenário incrível. Do alto das dunas, pode se ter uma vista de todo o arquipélago do Parnaíba, formado por mais de 70 ilhas. Dentre elas, a mais famosa é a Ilha das Canárias, povoado de pescadores com cerca de 2.500 habitantes. Um lugar onde os moradores ainda vivem como antigamente.
Deixando para trás as dunas, começamos a navegar pelos igarapés da região. Um ambiente de natureza exuberante e pouco explorada. Nestes canais, se pode observar caranguejos, siris, macacos, pássaros e, com um pouco de sorte, jacarés. Conseguimos ver dois jacarés neste dia. Eles não gostaram de nossa movimentação e logo desapareceram rio adentro. Mesmo por pouco tempo, valeu muito a experiência de ficar frente a frente com estes gigantes de água doce.
O passeio pelos igarapés é feito somente pelas lanchas, já que são muito estreitos para os catamarãs. Quando descobrimos isto, tivemos a certeza que fizemos a escolha certa, mesmo pagando um pouquinho a mais pelo passeio.
Era hora de seguir rumo à foz do Parnaíba, ou seja, o tão esperado encontro do rio com o mar. Como a maré estava baixa, dificilmente conseguiríamos ver o ponto exato de encontro. Segundo o marinheiro nos contou, quando a maré está alta é possível enxergar, com frequência, o local certo de encontro do rio e do mar. Uma pena não termos presenciado as duas “manchas” se encontrando.
Contudo, tivemos uma grata surpresa: só é possível nadar na foz quando a maré está baixa. Isto, porque, é neste momento que se formam os bancos de areia, que se tornam lindas praias desertas. Assim que a maré sobe, estes bancos de areia são encobertos e as praias desaparecem. Uma miragem para nossos olhos.
Aproveitamos para nadar e percorrer toda a extensão da “praia”, enquanto era tempo. Depois de uns 20 minutos caminhando, encontramos alguns pescadores dentro d’água, buscando descobrir se a maré estava para peixe. Um momento único de interação com a comunidade local. Ficamos impressionados como os piauienses são muito simpáticos e acolhedores. Um estado de natureza muito intocada e de pessoas singulares.