As paisagens cênicas da Serra da Canastra

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Era começo da tarde quando saímos de Capitólio em direção a São Roque de Minas. Esta seria a nossa segunda tentativa de chegar à Serra da Canastra ao longo desta viagem. Na primeira oportunidade, os dias seguidos de chuva nos repeliram da região, já que, segundo relatos dos guardas-parque, as estradas estavam intransitáveis. Desta vez, tinha que ser diferente. E foi!

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A entrada para a Serra da Canastra. Pegamos muita névoa este dia

O Parque da Serra da Canastra foi criado em 1972 com o objetivo de proteger as nascentes do Rio São Francisco e a fauna e flora características da região. Apesar de ser um grande berçário de tamanduás-bandeira e lobos-guará, encontrar um deles pelo caminho é uma tarefa nada fácil.

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Passarinho com cara de mau

Chegamos em São Roque de Minas e logo encontramos uma pousadinha bem econômica, na estrada que dá acesso para a Serra da Canastra. Descarregamos as malas, refizemos a nossa mochila de trilhas e, antes de partirmos, aproveitamos para comprar umas lembrancinhas em uma loja de artesanatos, que fica em frente à pousada.  A dona da loja é uma senhora muito simpática e atenciosa. Ficamos uns 10 minutos sozinhos dentro do estabelecimento, sem que qualquer pessoa aparecesse. Um sinal de que os tempos em São Roque de Minas ainda são outros.

Era hora de seguir rumo ao parque. Como tínhamos pouco tempo antes do cair da noite, decidimos visitar as Cachoeiras do Capão-Fôrro, a cerca de seis quilômetros de São Roque. O acesso no período de chuva é bem complicado, já que as cachoeiras localizam-se no caminho para a parte alta da Serra da Canastra.

O acesso à Serra da Canastra estava bem complicado

No Capão-Fôrro fomos recebidos por um simpático caseiro, que é o responsável por cuidar da propriedade, uma área privada. Depois de nos explicar, cuidadosamente, sobre todas as quedas d’água da fazenda, pagamos a entrada e seguimos rumo às cachoeiras. Da trilha já ouvíamos o intenso ruído das águas que caíam. O primeiro contato que tivemos foi incrível. Estávamos somente nós dois de frente para a primeira cachoeira, sentindo no rosto as pequenas gotas que o vento carregava. Desta cachoeira, surgia um pequeno rio, de águas tão cristalinas que se viam incontáveis peixes em suas margens.

Incontáveis peixinhos em meio à água cristalina das cachoeiras da Serra da Canastra

Atravessando este pequeno riacho, chegamos à segunda cachoeira, ainda mais bela que a primeira. Desta vez não resistimos. Mesmo com o dia nublado e a água bem fria, aproveitamos para nadar um pouco neste pequeno paraíso. Devido às chuvas, as cachoeiras estavam muito caudalosas, um espetáculo visual.

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Segunda cachoeira do Capão-Fôrro. Um paraíso escondido

O dia escurecia quando seguimos a trilha para a Cachoeira da Mata, a última que visitaríamos em Capão-Fôrro. Nem tivemos muito tempo para apreciá-la, mas os poucos minutos que passamos foram indescritíveis. Uma das cachoeiras mais belas e intocadas que já visitamos. A noite caiu e era grande a expectativa para o dia seguinte.

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A intocada Cachoeira da Mata, uma das mais belas do parque

Acordamos cedo, ajeitamos nossas malas e caímos na estrada em direção ao parque. As estradas da parte alta da Serra da Canastra estavam muito complicadas, com imensos atoleiros e desníveis. Tivemos que usar o 4×4 reduzido algumas vezes, mas nada que complicasse o passeio. Seguíamos rumo à Nascente do Rio São Francisco quando tivemos uma das maiores surpresas: um veado campeiro passara correndo e se escondera em meio à vegetação. Paramos o carro e sorrateiramente caminhamos em sua direção, de forma que ele não pudesse nos ver. Ficamos deitados na relva por vários minutos observando-o, até que o perdemos de vista, em meio à imensidão da Canastra. Um momento único de comunhão com a natureza.

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Este veado campeiro posou para nossa câmera, até que percebeu nosso movimento e fugiu mato adentro

Alguns quilômetros depois, chegamos à Nascente do Rio São Francisco. A menor e mais importante fonte de água que já conhecemos, visto o quão relevante e simbólico é o Velho Chico para o Brasil. Às margens do pequeno rio que brota de sua nascente, paramos para tomar um pouco de água e refletir sobre a natureza. É sempre momento de aprender lições com os mais experientes, principalmente com o Velho Chico, um “Senhor” com uma história e tanto para nos contar.

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A nascente do Velho Chico, o rio mais simbólico do país

Da Nascente seguimos mais uns quatro quilômetros até o Curral de Pedras, local que, antigamente, os fazendeiros usavam para prender o gado que habitava as terras do parque. Andamos mais um pouco e decidimos não seguir para a parte alta da Cachoeira Casca D’anta, que fica uns 15 quilômetros após o Curral de Pedras, já que as condições da estrada estavam proibitivas. A neblina tomava conta da serra quando decidimos voltar para São Roque e seguir para o nosso último destino: a parte baixa da Cachoeira Casca D’anta, em Vargem Bonita.

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O lugar onde o gado era confinado, o curral de pedras

De São Roque à Casca D’anta são cerca de 37 quilômetros, boa parte deles em estrada de chão. No caminho, paramos em São José do Barreiro, pequeno distrito de Vargem Bonita, famoso pela produção de deliciosos Queijos Canastra. Poucos quilômetros depois, ainda na estrada, tivemos a primeira vista da Cachoeira Casca D’anta. Isto nos fez lembrar o dia anterior, quando estávamos hospedados em São Roque de Minas: chegamos à recepção da pousada onde dormiríamos e decidimos pedir algumas informações sobre a Canastra para o proprietário. Ele, muito simpático, não parava de repetir que a Cachoeira Casca D’anta é o cartão postal da Serra, ainda que estivéssemos perguntando sobre outro assunto. De tanto repetir o seu bordão, ficamos extremamente ansiosos para conhecer o cartão postal da Serra da Canastra.

A incrível Cachoeira Casca D’anta, a mais bonita da Serra da Canastra

Paramos o carro e começamos a trilha em direção à Cachoeira. Algumas clareiras na mata nos mostravam um pequeno aperitivo do que estava por vir. Assim que deixamos a mata e o cenário se abriu, ficamos, literalmente, boquiabertos. Olhávamos um para o outro, como se disséssemos: “Como o dono da pousada estava certo!” Estávamos de frente para a cachoeira mais bonita que já tínhamos visitado em nossas vidas. Uma joia encravada em Minas Gerais, terra das cachoeiras mais belas do Brasil e, quiçá, do mundo. O volume de água era tanto, que saímos completamente molhados de Casca D’anta, ainda que sequer tenhamos nadado em suas águas. Foi de lavar o corpo e a alma!

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Foi de lavar a alma e, principalmente, o corpo

O dia escurecia e deixamos a cachoeira para trás. Não foi desta vez que vimos os famosos tamanduás-bandeira e os lobos-guará. Ficam pra próxima, já que é impossível conhecer a Serra e não se apaixonar. Com certeza voltaremos para encontrá-los. Nada de adeus, deixamos o nosso até breve, Serra da Canastra!

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