Um dos lugares que mais estávamos ansiosos para conhecer era, sem dúvida alguma, o Parque Estadual Terra Ronca. Localizado na região nordeste do estado de Goiás, o parque abriga um dos maiores complexos de cavernas da América Latina, um paraíso para os amantes da Espeleologia.
Estima-se que existam mais algumas centenas de cavernas ainda não descobertas e catalogadas. Do total das cavernas conhecidas, pouquíssimas estão abertas à visitação e exploração, sendo que, na maioria delas, a entrada somente é autorizada com acompanhamento de guias locais.
Ainda que passemos longe de espeleólogos profissionais, gostamos muito de caminhar e desbravar grutas e cavernas. Um desafio um tanto quanto claustrofóbico e que exige um grande controle mental. Com este propósito, partimos cedo de Barreiras, no estado da Bahia, em direção à São Domingos, cidade goiana que é a porta de entrada para o parque.
Era começo da tarde quando chegamos à cidade, compramos alguns mantimentos e seguimos direto para Terra Ronca. O acesso ao parque é todo por estradas de chão, a maior parte em boas condições. O caminho leva ao vilarejo de São João, que fica no perímetro do parque, e é o lugar ideal para pernoitar e contratar o serviço de guias especializados. Andamos uns 20 km e paramos na casa de um morador local para pedir algumas informações. Um grupo que conversava, gentilmente nos recebeu e logo tratou de nos avisar: nem tentem desbravar as cavernas por conta própria, pois as mesmas possuem inúmeras passagens, como um trevo com quatro alternativas e somente uma que leva ao destino correto. Após vários conselhos e um bom bate papo, resolvemos seguir para a caverna que todos nos recomendaram, a Angélica.
Esta caverna é a maior do parque e uma das maiores das Américas, com aproximadamente 17 km de extensão. Já imaginou caminhar por 17 km dentro de uma caverna, por entre túneis escuros, ouvindo passo a passo a sua respiração ofegante e imaginando o momento de reencontrar a luz do sol? Pois é, assim que adentramos à caverna pudemos sentir o tamanho deste desafio.
Era uma sexta-feira, estávamos somente nós dois dentro da caverna, sentindo toda a imensidão que estava à nossa frente. Conferimos as nossas lanternas, ajeitamos nossos equipamentos e começamos a caminhada. Como estávamos desacompanhados de guias, sabíamos que não iríamos muito longe. Caminhamos a passos lentos, ouvindo atentamente os grunhidos dos morcegos e logo a escuridão tomou conta de nós. Perdemos o contato com a luz solar e, a partir deste momento, as lanternas eram os nossos olhos. Não demorou muito a encontrarmos vários túneis lado a lado, assim como o morador local havia nos alertado. Para quem não conhece os caminhos, talvez a melhor opção seja acompanhar o fluxo do rio, certo? Bom, mesmo que nos parecesse a alternativa mais correta, o mais prudente era retornar. E foi o que fizemos. Que experiência grandiosa vivemos este dia. Nunca havíamos sentido o quão poderosa é a claustrofobia.
Retornamos para a boca da caverna e aproveitamos para curtir o cenário a sós. E ficamos imaginando quantos homens pré-históricos não viveram por ali. Além de abrigo, tinham abundância de comida e de água. Um lugar ideal para construir um lar, em meio à vida nômade que levavam.
Decidimos não seguir para o vilarejo de São João e paramos um pouco para cozinhar um almoço bem ali, perto da caverna e às margens do rio. Alguns cavalos nos acompanhavam e, de tão próximos, pareciam que queriam nos contar algo. Juntamos tudo e, assim como os homens pré-históricos, partimos ao sabor do vento, sem saber quais caminhos cruzaríamos em nossa jornada.