A Carretera Austral e a estrada sem fim

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Lago General Carrera, Carretera Austral

Sempre sonhamos em cruzar a Carretera Austral de carro. Ficávamos, às vezes, por horas conversando sobre como construíram uma estrada em um local tão selvagem e inóspito, mesmo sem conhecermos um quilômetro sequer de toda a sua extensão.

A Carretera Austral foi daqueles lugares que despertou em nós a verdadeira essência da vida.

Campos floridos pela Carretera Austral

De tão isolada e desconectada do restante do mundo, pudemos passar quase dez dias em um contato íntimo com a natureza, algo que pudemos sentir poucas vezes em nossas vidas.

O nosso começo pelo caminho austral não poderia ser melhor. Cruzamos a fronteira da Argentina para o Chile pelo Paso Jeinimeni, que interliga as cidades de Los Antiguos, na Argentina, e Chile Chico, no Chile.

Este primeiro trajeto, que conecta as cidades de Chile Chico a Puerto Guadal é, sem dúvida alguma, um dos caminhos mais lindos e surpreendentes do mundo. Por aqui, a Carretera Austral ainda não começou, oficialmente.

A Ruta 265 chilena, margeia o Lago General Carrera por mais de 70 quilômetros, descortinando paisagens surreais, de um mundo tão pouco conhecido pelas pessoas. De um lado, as águas azuis do segundo maior lago da América do Sul e do outro uma estrada por entre precipícios e caminhos sinuosos. Um cenário, não de outro mundo, mas deste mundo, incrivelmente belo e desconhecido.

Paramos dois dias em Puerto Bertrand, no sentido sul da Carretera Austral, completamente extasiados com o que tínhamos vivenciado nos primeiros quilômetros. Mal sabíamos que, bem ao nosso lado, estava um dos rios mais inacreditáveis que já presenciamos até hoje: o Rio Baker.

Rio Baker em Puerto Bertrand

Considerado o rio mais caudaloso do Chile, o Rio Baker é responsável por desaguar as águas azuladas do Lago General Carrera no mar. E é por isto que, ao longo dos seus primeiros quilômetros, a sua cor azul é tão marcante. Acredite se quiser. Não há truques ou alterações nas cores da foto acima: a água do Rio Baker é exatamente desta forma, seja com ou sem óculos, seja com ou sem filtro. É simplesmente impressionante!

Seguindo o nosso caminho para o norte, rumo à Puerto Montt, cruzamos com o destino mais famoso de toda a região: as Capelas de Mármore, que se localizam na cidade de Puerto Río Tranquilo.

De lá, saem, todos os dias, passeios de barco que exploram as belas cavernas esculpidas pelas águas do Lago General Carrera. As capelas são belíssimas, mas a exploração maciça do turismo tira um pouco a beleza do lugar e o clima selvagem da Carretera Austral.

Todo o caminho rumo ao norte é indescritível. Cruzamos por muitos Parques Nacionais, geleiras, imensas florestas e por fiordes. Mesmo as cidades ao longo do caminho, por maior que sejam, como Coyhaique, possuem um charme especial, por estarem ao redor de uma natureza tão intocada e preservada.

Ao longo da Carretera, os poucos moradores das zonas rurais preservam fortemente seus hábitos e costumes. Vê-los passando, tocando uma boiada ou um grupo de ovelhas, trajando as roupas típicas, nos transporta para um passado glorioso que ainda resiste aos tempos modernos. É uma experiência que, por si só, já vale o esforço de estar na Carretera.

Cruzando com moradores locais que tocavam uma boiada e tanto

Os nossos últimos momentos por lá foram dentro dos barcos que realizam as travessias de Chaitén à Puerto Montt. Terminamos a nossa passagem pela Carretera Austral na véspera do Natal, repletos de uma experiência sem precedentes em nossas vidas.

Até hoje, ainda paramos por horas e continuamos a nossa conversa sobre a construção da estrada, da mesma forma como fazíamos antigamente. Mais um sonho foi alcançado. E que sonho! Nem o melhor dos sonhos poderia prever tudo o que vivemos e sentimos ao longo dos quase 1.200 quilômetros que percorremos. Um caminho que terminou, mas que continua sem fim em nossas recordações.

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2 COMMENTS

  1. Olá sou de Porto Alegre, me chamo Agnaldo , já fiz Ushuaia , torres del paine, uyuni na Bolívia , todo Atacama, ealgas regiões do Brasil sempre de carro, quero cruzar a carreteira de moto. Qual a melhor época você indica? Abraços

    • Olá, amigo Agnaldo, tudo bem?
      É um prazer recebermos a sua mensagem no Terra Adentro! 🙂
      Então, penso que o ideal seja buscar um período entre estações. Em dezembro e janeiro chove demais na Carretera e no meio do ano acontecem nevascas com certa frequência.
      Assim, uma boa opção seria escolher um mês entre estações e aproveitar melhor o que a região tem para oferecer.
      Penso que outubro e novembro ou março e abril são algumas boas opções de datas.
      Boa viagem, amigo Agnaldo! 🙂
      Um grande abraço,
      Henrique e Sabrina.

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