Não há nada mais importante do que estar sempre preparado para enfrentar os imprevistos que diariamente mudam o curso de nossas vidas.
Muitos deles, especialmente aqueles que nos fazem sair de nossa zona de conforto, trazem grandes e incalculáveis aprendizados em nossa caminhada.
E, assim, foi o dia em que o nosso carro quebrou pela primeira vez na viagem, em uma estrada no interior do México.
No dia anterior, estávamos em Campeche, onde pudemos conhecer pessoalmente a incrível família O Nosso Quintal, a Cris, o Marcão e os pequenos Caetano e Teresa. Passamos momentos inesquecíveis e compartilhamos juntos a mesma saudade que temos do Brasil e de nossas famílias, que há muito tempo não vemos.
Na manhã seguinte, nos despedimos de Campeche e seguimos rumo à capital mexicana, ainda muito distante de nossas pretensões.
O caminho que interliga Campeche à Ciudad del Carmen cruza por paisagens surreais, com estradas que margeiam o cristalino mar do Caribe e praias completamente desertas.
Tudo caminhava perfeitamente bem, até que o maior imprevisto da viagem, até agora, resolveu dar as caras.
Já se passava das 19h e o pôr do sol estava incrível. Encostamos o carro em uma pequena brecha da estrada, pois não podíamos perder a oportunidade de contemplar e fotografar este momento único do dia.
Mas, antes mesmo de desligar o Mochileiro, percebi que o motor, repentinamente, se mostrou com pouquíssima potência, até que o carro morreu e, a partir de então, não ligou mais.
Tentamos ligá-lo por umas duas vezes e nada. O movimento intenso de caminhões dificultava muito o nosso trabalho, inclusive a ideia de tentar ligar o Mochileiro no tranco.
Pensa daqui, mexe dali e os últimos raios de sol já sumiam no horizonte. Na terceira e fatal tentativa de ligar o Mochileiro, após um tempo pensando o que faríamos, senti que o motor de arranque havia se partido, impossibilitando totalmente o seu funcionamento a partir de agora.
Lá se foram as nossas esperanças e era hora de pensar em uma outra alternativa.
Foi quando, acenando por vários minutos, sem sucesso, para os motoristas que passavam na estrada, um caminhão de obras pára e um “exército” de homens aparece para nos ajudar. Como que, milagrosamente, umas 12 pessoas surgem e rapidamente enganchamos o Mochileiro no caminhão, que nos arrasta até um vilarejo próximo, cerca de 15 quilômetros à frente de onde estávamos parados.
Já se passava das nove horas da noite quando nos deixaram neste vilarejo, já que nossos caminhos seguiriam por estradas diferentes. Antes de nos despedirmos deles, tentamos, sem sucesso, encontrar algum mecânico que pudesse nos atender, mas era preciso avaliar outra alternativa.
No final, depois de ligarem para vários mecânicos conhecidos e todos rejeitarem o trabalho, nos restou a única possibilidade àquela altura do campeonato: guincharmos o nosso carro até a cidade próxima, com mais estrutura, e encontrarmos um mecânico para trabalhar no Mochileiro.
E, assim, os nossos amigos, que nos acolheram na estrada e nos arrastaram até ali, conseguiram ligar para uma empresa de guinchos, que se situa em Villahermosa, cerca de 50 quilômetros ao norte de onde estávamos.
Combinamos o preço com a empresa e logo nos despedimos deste “exército” de amigos, plenamente agradecidos por tudo o que fizeram por nós.
Quando estava me despedindo de um deles, ele logo tratou de me avisar: “Esta é uma estrada perigosa, com muitos assaltos e roubos. Foi bom que passamos à tempo”. Perdi as palavras na hora, mas não contive o abraço de gratidão por todos eles.
Já se passava das onze horas da noite, quando, finalmente, o guincho chegou. Erguemos o Mochileiro e lá estávamos nós, junto com o motorista à caminho de Villahermosa.
Extremamente simpático, o motorista do caminhão nos sugeriu um mecânico, que seria de grande confiança. Ligamos pra ele (Orlando) e sem mais delongas, aceitou receber o nosso carro àquela hora.
Um novo dia já havia começado quando chegamos à porta de sua mecânica. Muito atencioso, o Orlando nos recebeu e, naquela madrugada, tentou descobrir o que havia acontecido com o carro. Dono de uma mecânica muito simples e pequena, o Orlando nos acolheu com muito carinho e nos fez sentir em casa, enquanto trabalhávamos no Mochileiro.
Quatro dias depois, estávamos prontos para seguir viagem, com o motor de arranque reparado, mas com o problema de potência do motor ainda não solucionado.
A ideia era seguir viagem até a Cidade do México, aos trancos e barrancos, onde já tínhamos uma boa indicação de mecânica especializada em 4×4.
No final, o que resta são as experiências e as pessoas incríveis que cruzam os nossos caminhos, pois, por mais que planejemos todas as nossas rotas, com mapas, estudos e informações importantes, nunca saberemos quando um imprevisto acontecerá.
Basta estar preparado para o dia em que ele chegar, que as portas se abrirão repletas de alternativas e de pessoas de bom coração.
Os imprevistos são inevitáveis, esta é a única certeza que temos.
Mas, qual era o problema, no final? 🙂
Olá, amigo Luciano!
Tudo bem?
Então, no final, já nos EUA, descobrimos que o problema do nosso carro era a bomba injetora, que estava sem potência.
Com a bomba injetora refeita, o Mochileiro funcionou perfeitamente bem depois! 🙂
Abraços dos amigos,
Henrique e Sabrina.