Depois de muito tempo esperando pelo nosso carro em Salt Lake City, cruzamos para o Canadá com o relógio contado.
Já era setembro e o outono começava a dar claras demonstrações que estava chegando de vez.
O nosso primeiro destino no Canadá já estava definido há um bom tempo atrás. Os Parques Nacionais Banff e Jasper, considerados uns dos mais incríveis da América do Norte, já estavam em nosso roteiro desde que saímos do Brasil.
A expectativa para conhecê-los era incontrolável, mas não tanto quanto as queimadas que enfumaçavam os céus de Alberta. Cruzamos ambos os parques, contudo a nossa visão não ultrapassava mais que 100 metros de distância, o que nos fez mudar radicalmente os nossos planos.
Por quê não passar em Banff e Jasper na volta e acelerar o passo rumo ao Alaska? Assim, começamos a nossa escalada rumo à última fronteira das Américas.
Pouco conhecíamos sobre a principal estrada que nos levaria até lá. A mítica Alaska Highway, inaugurada em 1942, completava exatamente 75 anos. Considerada uma das obras de engenharia mais complexas de todos os tempos, esta estrada foi construída durante a Segunda Guerra Mundial, para servir como o principal meio de ligação do Canadá e Estados Unidos com o Alaska.
Antes considerada uma estrada de guerra, hoje a Alaska Highway é uma estrada de paz.
Cruzar seus mais de 2.450 quilômetros, desde Dawson Creek, no Canadá, até Fairbanks, no Alaska, nos traz uma grande harmonia interior.
A cada quilômetro rodado, uma nova paisagem impressionante se abria perante os nossos olhos. Conversávamos e tentávamos relembrar se, algum dia, já havíamos cruzado por uma região tão preservada. Puxamos da memória lembranças da Patagônia e da Cordilheira dos Andes, pois desde aqueles tempos não nos sentíamos tão inseridos na natureza.
Muitos dias se passaram dentro dos limites da Alaska Highway.
Incontáveis lagos cênicos, montanhas nevadas e animais selvagens faziam parte de nosso dia a dia. Às margens desta estrada, vimos três Ursos-Negros, Bisões, Cabras Selvagens, dois Caribous e um Moose.
Sempre que encontrávamos com alguns destes animais, parávamos o carro e tentávamos fazer o menor ruído possível.
Esta estratégia funcionou muito bem com uma Ursa-Negra e seu filhote. Desligamos o motor e ficamos por mais de 30 minutos observando-os. Quando tentamos nos aproximar um pouco mais, logo eles correram rumo às florestas boreais. Não cansados de esperá-los, decidimos ficar bem ali, escondidos dentro do Mochileiro. O tempo foi passando, entre um lanche e outro, e nada.
Quando, de repente, o filhotinho surgiu do meio da floresta, acelerando como se tivesse algum predador à sua espreita. Que nada, era somente a sua forma de expressar a liberdade e a alegria por estar na companhia de sua Mãe.
Nossos olhares fixos aos dois, revelavam o quanto eles nos hipnotizavam. Era a primeira vez que víamos ursos em nossas vidas e, desta forma, livres na natureza, era ainda mais recompensador.
Difícil não era esperar pelos ursos, mas sim percorrer as longas distâncias entre os vilarejos ou pontos de apoio às margens da Alaska Highway. À cada curva, esta fascinante estrada nos presenteava com algo ainda mais belo.
O outono que estava bem tímido no sul do Canadá, já no norte do país mostrava o quanto é considerado uma das estações mais lindas do ano. Sentíamos diariamente as mudanças na natureza: as folhas caíam, os animais migravam e o vento trazia consigo o frio que, aos poucos, vinha retomar o seu espaço.
As temperaturas davam uma mostra real de como o inverno é rigoroso nesta região. Em uma das noites mais frias, em um camping público em Haines Junction, chegamos a enfrentar – 9° Celsius, o que fez o câmbio do Mochileiro congelar e o carro engasgar várias vezes até, realmente, funcionar bem fraco, de longe a Defender barulhenta que estamos acostumados.
Assim, acumulando ricas experiências e quilômetros de estrada, fomos nos aproximando lentamente da fronteira com o Alaska, que foi alcançada no dia 11 de setembro.
Um dia daqueles que marcam as nossas vidas eternamente e que nos mostram que, as mais valiosas conquistas, vão muito além de bens materiais, que tanto nos esforçamos para acumular.
Superar os nossos limites é a maior de todas elas.
Assim, continuamos o nosso caminho, agora na última fronteira das Américas.